O perigoso Baiacu pintado
Envenenamento fatal por baiacu (Tetrodontidae)
Nós pescadores de praia , sabemos que o Baiacu nos oferece um carne muito saborosa e principalmente sem nenhum espinho , porém é preciso estar atento no processo de limpeza deste peixe , para que não ocorra contaminação da carne pelo fel no qual está alojado em suas vísceras .
Sabemos que o Baiacu bandeira ou Arara ( foto abaixo ) , apresenta um teor de toxinas muito baixo , que em caso de contaminação prematura da carne proveniente do rompimento da bolsa de fel em suas vísceras , o máximo que poderá ocorrer é um mal estar estomacal , provocando vômitos e náuseas , mas sem deixar sequelas ao organismo .
Saiba mais sobre a limpeza do baiacu bandeira , sem o risco de contaminação da carne pelo rompimento da bolsa de fel em suas vísceras .
INTRODUÇÃO
Os baiacus ou peixes-bola são peixes venenosos das famílias Tetraodontidae e Diodontidae, comuns na costa brasileira. São muito fáceis de identificar devido ao comportamento de aumentarem o volume corporal através da ingestão de ar ou água. Tal comportamento se justifica pelo fato do diâmetro do peixe aumentar e os predadores não poderem engoli-lo. Os baiacus mais importantes no Brasil são os baiacus-araras ou baiacus-lisos (Lagocephalus sp) e os baiacus-pintados (Sphoeroides sp). O primeiro gênero atinge até dois quilogramas de peso, mas os baiacus-pintados são menores chegando a pesar até um quilograma. A carne destes peixes tem bom sabor e é apreciada em determinadas regiões do Brasil (V Haddad Jr: comunicação pessoal, 2009). Os gêneros acima pertencem à família Tetrodontidae e outros baiacus, que tem espículas recobrindo o corpo, são classificados na família Diodontidae.
A tetrodotoxina (TTx) é a principal neurotoxina encontrada nos baiacus e pode ser isolada em maiores concentrações nas vísceras (especialmente gônadas, fígado e baço) e na pele do peixe. O peixe não produz as toxinas, apenas as armazena em alguns órgãos corporais, usando-a como defesa contra predadores. Outros animais terrestres e aquáticos também podem armazenar TTx, como alguns moluscos, salamandras, peixes e rãs das florestas tropicais (família Dendrobatidae).
A TTx é uma toxina termo-estável, que não sofre ação pela cocção, lavagem ou congelamento. Seu nível é sazonal, e as maiores concentrações são encontradas nas fêmeas em época reprodutiva. Atua bloqueando os receptores de sódio voltagem-dependentes, impedindo a despolarização e a propagação do potencial de ação nas células nervosas. Esta ação ocorre nos nervos periféricos motores, sensoriais e autonômicos, tendo ainda ação depressora no centro respiratório e vasomotor do tronco encefálico.
As manifestações neurológicas surgem em algumas horas e cursam com parestesias periorais (sugestivas do acidente) e nas extremidades, fraqueza muscular, mialgias, vertigens, disartria, ataxia, dificuldade de marcha, distúrbios visuais e outros sintomas. Com o agravamento das manifestações neurológicas, surgem convulsões, dispnéia e parada cardiorrespiratória, que pode ocorrer nas primeiras 24 horas. A sintomatologia gastrointestinal é caracterizada por náuseas, vômitos, dores abdominais e diarréia. A morte pode ocorrer devido à paralisia muscular, depressão respiratória e falência circulatória. Há relato de óbito humano por bradicardia não responsiva a qualquer tratamento (bloqueio atrioventricular completo).
O envenenamento provocado pela ingestão de baiacus é uma das mais graves formas de intoxicação por animais aquáticos e o veneno (tetrodoxina) normalmente está em maior concentração no fígado, baço, vesícula biliar, nas gônadas e na pele, podendo provocar a morte em poucos minutos, após o consumo.
Em um estudo com Sphoeroides spengleri, espécie de baiacu presente em toda a costa do Brasil, foi possível demonstrar que os níveis de tetrodotoxina nos músculos, pele e vísceras de peixes do gênero Sphoeroides são elevados e constituem risco para os consumidores enquanto os níveis em baiacus do gênero Lagocephalus são menores e em teoria apresentam menor grau de risco.
Não existem dados concretos sobre este tipo de envenenamento no Brasil, embora existam relatos esparsos de óbitos e casos graves registrados. Assim, não é possível se ter uma real dimensão do problema no Brasil. Por outro lado, no Japão é bastante comum o consumo do peixe. Os mesmos (pertencentes ao gênero Fugu) são preparados por cozinheiros especializados que procuram retirar o veneno, podendo deixar resquícios deste em quantidade suficiente para provocar parestesias periorais e labiais. Apesar dos cuidados e dos rituais, cerca de 50 acidentes fatais ocorrem todo ano no Japão.
Não há tratamento específico para os envenenamentos causados pela ingestão de baiacus. O tratamento é de suporte, fundamentalmente de apoio respiratório. Podem ser indicadas como medidas imediatas a lavagem gástrica e eméticos, mas apenas nas primeiras horas após a ingestão. Esta comunicação relata um acidente fatal em uma criança pelo consumo de vísceras de um baiacu-pintado.
RELATO DO CASO
JS, um ano e 11 meses de idade, masculino, foi admitido no Hospital de Goiana-PE, com história de ingestão das vísceras de baiacu, cerca de duas horas antes do atendimento, com início dos sintomas de intoxicação, aproximadamente, uma hora após a refeição.
Os familiares afirmaram que alguns baiacus foram pescados na noite anterior do acidente, em uma região estuarina localizada no distrito de São Lourenço, município de Goiana, Estado de Pernambuco, Brasil. A avó do menino limpou os peixes, aproximadamente às 08 horas e 30 minutos da manhã, retirando a pele e as vísceras, que foram lavadas em água corrente e banhadas com suco de limão. Apenas as vísceras foram preparadas, sendo fritas em óleo quente e posteriormente, misturadas com batata doce. A criança ingeriu a preparação aproximadamente às 10 horas e 30 minutos da manhã e segundo os familiares aproximadamente 1 hora após a refeição apresentou suor frio, mal estar, formigamento e o corpinho mole (sic). Esta foi então encaminhada pelos familiares à unidade de saúde mais próxima, dando entrada na unidade duas horas após a ingestão das vísceras, apresentando sialorréia intensa, cianose e já em parada cardiorrespiratória (PCR). Foram instituídas manobras de ressuscitação, sem êxito.
DISCUSSÃO
Os baiacus são utilizados como fonte de alimento de maneira rotineira na área do acidente, como acontece em certas regiões do Nordeste. O peixe preparado pela família foi um espécime do gênero Sphoeroides (Sphoeroides testudineus) (Figura 1) – exemplares estão depositados na Coleção Ictiológica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e na Coleção Científica do Centro de Assistência Toxicológica do Estado de Pernambuco (CEATOX-PE) – e, para maior risco, as partes do peixe consumidas pela criança foram as vísceras, sabidamente capazes de conter maior concentração de TTx do que a musculatura (Figura 2). As medidas utilizadas na limpeza não são eficazes na neutralização da toxina. Oliveira cols apontaram um maior risco de envenenamento após consumo de peixes do gênero Sphoeroides, o que foi confirmado por este relato de caso. Como fator importante para a discussão, deve-se enfatizar ainda a alta frequência do consumo de baiacus na região e a total ausência de informações sobre a possibilidade de intoxicação por parte dos pescadores e suas famílias, uma contradição com a experiência adquirida pela população local ao longo dos anos. Um agravante causado pela situação socioeconômica da população local é que os filés (que em potencial tem menor concentração de toxina, embora ainda sejam capazes de envenenar) são vendidos por preços razoáveis pelos pescadores, restando aos próprios e suas famílias subprodutos dos peixes, como as vísceras, onde as concentrações de TTx são maiores. (PL Santana Neto: comunicação pessoal, 2009).
Fonte : Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical
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José Marciano Almeida junho 09, 15:21Certa feita disse-me um pescador, que o perigo existe, devido ser este peixe ter uma dieta muito exótica, ele destrói " anzóis e corta as linha de pesca dos pescadores" e por isso é detestado por muita gente. E que quando começa a "pegar" este peixe, as outras espécie desaparecem do local. Por este motivo ao ser capturado, o pescador "bate com o mesmo no barco " causando o rompimento de suas vísceras. E consequentemente a contaminação de sua carne. Que é uma carne muito bonita, sem espinhas e um gosto muito bom. Por este motivo e mais ao fato de ser um peixe barato. Aumentam as possibilidades de acidentes. José Marciano Almeida fone: (12) 91929351 São José dos campos-SP
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william - sardinha fevereiro 10, 07:19Oi, o baiacu arara so tem o veneno no fel ja esses baiacus que ficam nas pedras ou o pintado ja tem o veneno na carne. Eu sou pescador profissional de jurujuba em Niteroi RJ. Aqui sai ate briga pra quem vai levar baiacu arara pra casa de tao gostoso que o peixe. Sabendo limpa - lo e tranquilo e digo mais ja vi baiacu arara de 8,5kg aqui em jurujuba.
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Sedimar novembro 19, 23:25Peguei um de três quilos em Itacuruçá,foi no jig com o barco em movimento foi lindo quando chegou na superfície,todos ficaram admirados pelo tamanho,sem contar os filés que saíram dele,carne realmente maravilhosa.
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Andy dezembro 11, 19:07Concordo com vc wilian,sou de mangaratiba e adoro a carne do baiacu e como a anos.so tem q retirar bem a pele.pois tbm contem a tsx